sexta-feira, 6 de setembro de 2013

VENTOS DE AGOSTO



Agosto, mês do desgosto

e dos assovios dos ventos.

Mas os sopros dos ventos de agosto,

levam para longe os frios dos invernos.

E acenam com os ares da primavera,

que se avizinha, bem de mansinho,

abrindo as primeiras florzinhas,

pintando o mundo de cores.

E os ventos de agosto

acolhem os sóis de setembro,

com novo alento,

embora,  ainda com vento.

E vai-se o agosto,

que não significa desgosto,

mas, simplesmente,

mais um tempo que se vai

 e não volta nunca mais...

Agosto de 2013

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Saudaçao à Pátria


SESSÃO SOLENE NA CÂMARA MUNICIPAL DE VEREADORES DE SOLEDADE

Excelentíssimas autoridades presentes nesta sessão solene, senhoras e senhores...

Sentindo-me honrada com a deferência de fazer esta saudação em homenagem à pátria, proponho que realizemos, juntos, uma reflexão, sobre o que é a pátria para todos nós.

Pátria é um conceito, denso e volátil... É um termo até banal, porque todos o pronunciamos sem muita cerimônia e sempre o relacionamos a BRASIL...

Mas, pátria, não é simplesmente um espaço, nem uma questão de geografia.

Pátria, envolve uma amplitude que tem a ver com sentimentos, com afetos, com atitudes...

Pátria envolve simbologias muito mais amplas e profundas que um simples hastear de bandeiras, ou comemorações durante uma semana específica...

Pátria, muito mais que um lugar, somos nós, as pessoas... Por isso nós, as pessoas, somos os responsáveis pela pátria que temos.

Os laços invisíveis do verdadeiro sentido de pátria nos ligam, amarram-nos, despertam-nos sentimentos:

- fazem-nos felizes, mas muitas vezes, tristes...

- fazem-nos sorrir, mas muitas vezes, chorar...

- fazem-nos sentir orgulho, mas muitas vezes, nos envergonhar...

Particularmente, esta nossa pátria, Brasil, orgulha-me muito, sempre que visualizo todas as crianças, crescendo, saudáveis, indo à escola e aprendendo com professores dignos e valorizados, o que nem sempre acontece...

Esta pátria orgulha-me muito quando visualizo adultos, voltando a estudar, resgatando o que lhes foi negado na infância.

Esta pátria muito me orgulharia se eu visse sempre a saúde sendo priorizada, com profissionais comprometidos, olhando de verdade para seus pacientes, independentemente de quem os está pagando.

Esta pátria muito me orgulharia se a segurança fosse prioridade e se a violência não nos amedrontasse tanto.

Esta pátria orgulha-me e alegra-me, pelas suas belezas, pela grandeza, pelos bons sentimentos, pelo nosso trabalho diário, pela nossa labuta em sermos melhores.

Ah! Mas esta pátria entristece-me, quando vejo nossos irmãos, brasileiros, procurando outros lugares para viver, em busca de melhores condições de vida, onde nem sempre são reconhecidos e valorizados, muitas vezes, não encontrando lá o que também não encontraram aqui...

Esta pátria entristece-me quando vejo a violência, a exploração, a mentira, a enganação, a corrupção e a falta de ética em diferentes níveis da vida brasileira.

Apesar disso, temos que ser otimistas, mas não podemos ser hipócritas. Temos que trabalhar muito, temos que mudar muito para construir a pátria que queremos.

E, mais uma vez, particularmente, a pátria que eu quero é aquela que não segrega, que não segmenta, que não estimula aparthaids sutis e camuflados por credo, raça, gênero, por classe social ou econômica.

A pátria que eu quero, é aquela em que todos têm voz, vez e compromisso com a sua construção, com a sua preservação digna e respeitada.

Pátria, como síntese de um sentimento coletivo, requer um engajamento e um compromisso ético de todos nós, brasileiros e, por isso, todo o dia é dia da pátria. Este sentimento tem que ser cultivado, guardado, preservado, respeitado todos os dias...

E, todos os dias, nas ruas, nas praças, nas favelas, nas fábricas, nas cidades e nos campos, nos tribunais, nos legislativos, nos órgãos executivos, enfim, em todos os lugares e em todas as instâncias deste Brasil, ou onde estejam brasileiros com sentimento de brasilidade, todo dia, é dia da pátria, embora tenhamos escolhido, em especial, o dia de hoje para dizermos isto.

Muito obrigada...

Maria Lêda Lóss dos Santos, em 02/09/2013.

 

domingo, 19 de maio de 2013


INSÔNIA

Poro onde andará o meu sono?

Terá se perdido em meio a um sonho?

 Ou não o encontrei,

Porque ele ficou escondido,

 Perdido, afogado,

 imerso em um mar de preocupações?

E andei divagando, por horas procurando-o.

 Então, desisti de encontrá-lo.

 E procuro, na solidão desta madrugada,

 Lembrar os sonhos perdidos,

Reviver os sonhos não vividos

 E, na lucidez da minha insônia,

consigo sonhar acordada.

Abril de 2013

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Embriaguês


EMBRIAGUÊS

 Não tomo banho de mar,

meus olhos o fazem.

Sempre que vou ao mar,

tomo uma grande bebedeira.

Meus olhos embriagam-se de mar.

Banham-se no azul profundo,

bebendo cada gota de seus mistérios .

Meus olhos têm vertigens,

perambulando entre os limites móveis,

que separam a areia e as ondas.

Mas meus olhos ainda encontram

resquícios de sobriedade

e alongam-se até o horizonte,

na ânsia de encontrar o outro lado...

E eis que lá no fundo, bem fundo,

encontram o céu.

Maio de 2013

terça-feira, 26 de março de 2013


A BARCA DO DIOGO


Nestes tempos de comemorações do aniversário de emancipação político-administrativa do meu município, Soledade, que segue encrustrada no planalto gaúcho, recordo da minha infância, na década de 1950, onde a “Vila” era o rumo de todas as redondezas, sempre subindo... e de coxilha em coxilha chegava-se ao alto de uma encantadora cidadezinha com suas casas de madeira, baixas e compridas, que bordavam as ruas ainda poeirentas.

Essas paisagens rumo à cidade, enchiam de encantamento minha alma infantil de menina da roça e chegar até a “Vila” era uma aventura sem concorrência. Aliás, ir à cidade a bordo da “Barca do Diogo” era o máximo da aventura!

Chamava-se Barca do Diogo, porque partia, ainda na madrugada, de um local às margens do Rio Jacuí, onde operava uma pequena barca fazendo a passagem de pessoas e veículos de um lado a outro do rio. Era a “Barca do Diogo”.

Feliz e matreira, com minha melhor roupa, acompanhada dos meus pais e irmãos, descíamos ao portão que se abria para o “corredor” e esperávamos com ansiedade a passagem da “Barca”...

Mas era uma barca sem rio... Era uma barca que não navegava! Explicando: tratava-se de um pequeno ônibus, que não consigo definir o ano de fabricação. Talvez da década de 1940, já que nos encontrávamos na década de 1950 e o veículo não era nada novo. De formato arredondado, com um “focinho” meio alongado, pintado de marrom e verde escuro, tinha uma escadinha atrás, que terminava numa cerquinha em seu teto, onde eram acomodadas as bagagens.

A “Barca do Diogo” vinha às nove da manhã, às vezes chegava às dez ou às onze... E como morávamos há poucos quilômetros da cidade, éramos quase os últimos a embarcar... Era esse o termo que usávamos “embarcar”...

O problema é que ela já vinha lotada com os passageiros se apertando ao máximo nos reduzidos lugares (talvez vinte ou trinta) e ocupando todos os espaços disponíveis no corredor e ao lado do motorista. Muitas vezes alguns homens desciam para dar lugar às mulheres e às crianças e subiam pela escadinha misturando-se às malas, trouxas, sacos com milho verde, mandioca, ovos, galinhas e até pequenos leitões. Chegávamos todos vivos, pessoas e animais...

A volta se processava da mesma forma, agora todos carregados de seus sonhos em forma de compras, víveres, tecidos, sapatos... Iam apinhando-se enquanto havia lugares e, muitas vezes, o chiqueirinho das bagagens destinava-se também aos homens com o vento “tapeando-lhes” os chapéus na testa.

Quando chovia, a desgraceira se instalava, molhava os viventes fora e dentro do ônibus. Isso quando não atolava e requeria a ajuda dos passageiros homens ou até de juntas de bois ou parelhas de cavalos...

Mas para o meu mundo infantil e tão restrito, a “Barca do Diogo” era um meio de transporte de luxo e que nos levava aos encantamentos da nossa pequena Soledade.
                                                                   Maria Leda Lóss dos Santos
                                                                                  Soledade, 26 de março de 2013.

sábado, 2 de março de 2013

O CANTO DA FONTE

O CANTO DA FONTE

A fonte que canta alegre,
também pode chorar de dor,
porque o seu constante murmúrio
pode ser um simples sussurro,
ou um gemido de amor.

Seu canto contínuo e doce
traduz o que se tem no peito,
pode ser um acalanto,
ou um suave e triste lamento
por um amor desfeito.

Segue teu canto infinito
de dúvida e de incerteza,
sem confirmar claramente
se cantas alegremente,
ou se teu canto é de tristeza.

Canta, canta enquanto encanta,
oh fonte dos meus amores.
E acalenta meus sonhos
de viver dias risonhos,
Sem pensar nas minhas dores.

Fonte dos meus encantos,
canta, canta sem parar.
Assim sigo nesta vida
Sem ter a ilusão perdida,
de que um dia pararei de cantar.